2 de jun. de 2007

FURACOES- CATARINA & KATRINA


Lições do Catarina e do Katrina
Artigo discute influência das mudanças climáticas na ocorrência de fenômenos extremos

Nos últimos tempos, fenômenos climáticos de grande poder de destruição vêm ocorrendo em diversas partes do mundo, causando enormes danos materiais e alto número de mortes. Nem o Brasil escapou: o Catarina, primeiro furacão do Atlântico Sul, pegou de surpresa moradores do sul do país em março do ano passado.

Alguns estudos indicam que o aumento da temperatura das águas oceânicas estaria tornando mais intensos esses fenômenos, mas ainda há incertezas quanto à real influência do chamado aquecimento global em mudanças na freqüência de furacões e tufões e em sua ocorrência em locais onde não eram observados. Centros de pesquisa de vários países, usando modelos climáticos, tentam prever se esses eventos extremos tendem a aumentar, para evitar ou amenizar tragédias como a provocada pelo furacão Katrina em Nova Orleans, nos Estados Unidos.

Existem evidências de que, em diversas regiões da Terra, estão aumentando a freqüência e a intensidade de fenômenos climáticos extremos. Ainda que esse aumento possa, em princípio, ser parte de uma variabilidade natural do clima, ele também é consistente com as conseqüências esperadas do aquecimento global – o aumento das temperaturas médias da superfície dos continentes e dos mares induzido por causas naturais e pelos efeitos de atividades humanas. Essa relação é preocupante, pois mostra que, em razão do aquecimento global (em especial o das águas do mar), a humanidade precisa estar preparada para enfrentar fenômenos climáticos cada vez mais severos.

Esses fenômenos já vêm acontecendo, como revelam notícias vindas de várias partes do mundo, causando imensos prejuízos materiais e causando a morte de grande número de pessoas. No entanto, os danos a cidades e populações provocados por ciclones, furacões, tufões e tempestades severas têm razões menos climáticas e mais demográficas e políticas.

Grandes cidades já foram atingidas por tempestades muito fortes no passado, sem tantas mortes ou estragos. A diferença é que de lá para cá ocorreu uma explosão demográfica nas zonas costeiras e muitas áreas sujeitas à passagem de furacões e chuvas fortes foram intensamente ocupadas, com o consentimento dos governos e sem maior preocupação com os riscos associados.

Imagem do Catarina, primeiro furacão conhecido no Atlântico Sul, que atingiu o sul do Brasil em 2004 – a fotografia, em cores naturais, foi obtida pelo satélite Terra (foto: Nasa)
Mesmo o Brasil não está imune a esses fenômenos. Em 27 de março de 2004 uma tempestade inicialmente classificada como ciclone extratropical atingiu a costa sul do Brasil, entre Laguna (SC) e Torres (RS), com chuvas fortes e ventos estimados em cerca de 150 km/h, matando 11 pessoas no continente e no oceano e causando destruição em dezenas de municípios. Após estudos e debates, concluiu-se que o fenômeno – batizado de Catarina por causa do estado mais atingido – foi o primeiro furacão de que se tem notícia no país.

O Catarina gerou muitas indagações sobre suas causas, e não está excluída a possibilidade de estar relacionado ao aquecimento global. Na verdade, ainda existe incerteza nos meios científicos sobre as possíveis conseqüências das mudanças climáticas associadas ao aquecimento global no aumento na freqüência e intensidade de furacões.

O que se sabe é que o aquecimento global é real e decorre principalmente, entre outros fatores, do aumento da concentração de gases de ‘efeito estufa’ na atmosfera. Essa maior concentração, gerada em grande parte pela queima de combustíveis derivados do petróleo e por desmatamentos, queimadas e incêndios florestais, acumulam-se na atmosfera e aumentam a retenção de calor pelo planeta, fazendo com que a baixa atmosfera se comporte como uma imensa estufa.

Para avaliar os efeitos desse aquecimento no clima, os países integrantes das Nações Unidas criaram em 1988 o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Existe no Painel o consenso de que as mudanças do clima vinculadas ao aquecimento global podem alterar as trajetórias das tempestades severas (entre elas tempestades tropicais e furacões) e de que regiões que raramente experimentam fenômenos extremos hoje podem ser afetadas por eles no futuro. A pergunta que se faz é: esse futuro já chegou?

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