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31 de dez. de 2008
A GUERRA ESQUECIDA DA AFRICA
CONGO -
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Apesar da negativa de vários países da região, há fortes indícios de que forças estrangeiras estejam envolvidas nos conflitos no leste da República Democrática do Congo.
Jornalistas no leste da República Democrática do Congo disseram que até um quarto das forças que lutam ao lado do general dissidente, Laurent Nkunda, são ruandesas.
Alguns soldados até teriam dito ter recebido seus soldos do Exército ruandês.
Outras informações apontam para a presença de soldados angolanos e zimbabuanos na região.
'Guerra Mundial da África'
A possibilidade despertou temores de uma repetição de uma guerra que durou de 1998 a 2003 no Congo, e envolveu oito países da região, tornando-se conhecida como a "Guerra Mundial da África".
Na época, forças do governo congolês, apoiadas por soldados de Angola, Zimbábue e Namíbia combateram rebeldes do Congo apoiados por Uganda, Ruanda e Burundi.
As evidências parecem sugerir que a história pode se repetir. A eventual presença de soldados ruandeses nas forças rebeldes tutsis congolesas já vem sendo noticiada há algumas semanas.
Ao mesmo tempo, surgiram relatos de moradores da capital regional, Goma, de que entre as forças do governo congolês estão soldados angolanos - são militares que não falam nenhuma das línguas locais e se comunicavam em português.
Especialistas dizem, contudo, que estas evidências não são conclusivas, pois alguns soldados congoleses, inclusive um grupo conhecido como Tigres Katangueses, lutaram em Angola durante a guerra civil no país e conversam, com freqüência, em português.
Apesar disso, há indícios de que soldados do Zimbábue estejam envolvidos.
Um desertor do Exército disse à BBC que integrava a força que permaneceu no Congo depois do fim da última guerra, em 2003.
"Alguns soldados zimbabuanos foram deixados no Congo durante a retirada das forças aliadas. Há cerca de 250 soldados que ficaram para trás sem o conhecimento de outros países", afirmou o desertor, que não quis ter sua identidade divulgada.
O governo angolano nega ter enviado tropas para o Congo, embora afirme que apoiaria o governo caso receba um pedido neste sentido da organização regional SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral).
Ruanda negou reiteradamente ter enviado soldados para o Congo, mas declarações semelhantes foram feitas durante os estágios iniciais da última guerra - e ninguém duvida que tropas estrangeiras tiveram um papel-chave no conflito.
Nestas circunstâncias, não é de surpreender que o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, tenha advertido que o conflito pode envolver o resto da região.
DOENÇAS<
A febre hemorrágica ébola, uma das doenças humanas mais letais, reapareceu na República Democrática do Congo (RDC). A informação foi ontem adiantada em Genebra pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que confirma um mínimo de cinco casos. Não se sabe quantas pessoas foram infectadas, mas a epidemia ainda não identificada que alastra no Kasai Ocidental, no centro do país, já atingiu quase 400 indivíduos, não sendo de excluir que se trate de ébola ou de uma associação de duas infecções distintas.
As autoridades sanitárias locais contabilizam 166 mortos, embora muitos dos doentes possam ter falecido devido a complicações ligadas a outra febre hemorrágica, considerada menos perigosa, a doença de Shigella. Mas um responsável da OMS contactado pela AFP, em Kinshasa, atribui estas mortes ao vírus ébola. Além dos cinco casos já confirmados em Genebra, há 40 análises pendentes.
A última vez que o vírus ébola surgiu na RDC foi em 2005, com 12 infectados e nove mortos (uma taxa de fatalidades de 75%). O pior surto de que há memória ocorreu no Uganda, em 2000 e 2001, com 425 casos e 224 mortos. A doença apareceu pela primeira vez no Sudão e no Zaire (actual RDC). A versão congolesa teve uma taxa de mortalidade de 88% (contra 53% da sudanesa), tendo na altura morrido 318 pessoas no Zaire e 284 no Sudão.
Para além de dar escassas esperanças de sobrevivência, esta infecção é muito contagiosa. O vírus é transmitido através do contacto das pessoas com fluidos corporais dos doentes, sangue ou outras secreções. A incubação varia entre dois dias e 21 dias. Estas circunstâncias tornam perigosos os enterros das vítimas ou o tratamento dos doentes. Os infectados sofrem violentas febres e dores de cabeça, seguindo-se vómitos, diarreia e, muitas vezes, hemorragias internas e externas. Não existe vacina e os tratamentos consistem em hidratação intensa dos doentes.
Desta vez, o estado caótico da RDC e a ocorrência simultânea de várias rebeliões poderão dificultar o combate à epidemia.
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